Escrito por um colaborador que faz parte do Centro de Acolhimento a Imigrantes em Israel.
No começo dos anos 80, estabeleceu-se a operação Moisés com judeus etíopes vindos da Etiópia para o Sudão. Em uma operação muito complexa, o governo de Israel resgatou esses judeus de lá. Já no início dos anos 90, tivemos a operação Salomão, onde o governo etíope deu o prazo de 48 horas para o governo de Israel buscar todos os judeus da Etiópia para Israel. Esta foi a maior operação de transporte aéreo de um ponto A para um ponto B da história. Até hoje temos famílias vindo da Etiópia para o norte e sul de Israel, onde temos 17 Centros de Aliyah como este em Ibim, alguns são mistos, mas a maioria é destinada para os judeus etíopes que possuem uma cultura muito distinta. Ibim é uma vila no sul de Israel. Localizada perto de Sderot, ela está sob a jurisdição do Conselho Regional de Sha'ar HaNegev. Em 2021, tinha uma população de 721 habitantes. Foi estabelecida para fornecer moradias para imigrantes da Etiópia. Para algumas famílias, este será o primeiro contato com uma casa com água encanada, infraestrutura e móveis modernos. Essas famílias passam três anos no centro onde vão transicionar para uma vida moderna, diminuindo as diferenças com os judeus atuais que vivem em Israel. Pode parecer muito tempo, mas muitas pessoas não sabem a diferença entre um detergente e um shampoo, então esse período é muito importante para inserção na comunidade moderna de Israel.
O processo de acolhimento é dividido em três partes:
A primeira parte acontece no primeiro ano e trabalha nas diferenças que falamos acima, nas mudanças práticas da vida moderna, ensino da língua, entre outras.
No segundo ano, eles se formam na escola de hebraico, conseguem empregos na região sul, onde 90% conseguem trabalho.
E finalmente, no terceiro ano, recebem uma ajuda do governo e, já estabelecidos, conseguem uma moradia e uma vida independente como cidadãos israelenses.
Relato de um membro da equipe, sobre o dia 7 de outubro de 2023
Acordei de manhã, vi que tinham mísseis sendo lançados e perguntei a uma amiga se ela poderia ir no Centro Aliyah ver como estavam os imigrantes. Ela me respondeu que não poderia sair de casa pois tinham carros com terroristas nas ruas. Quando respondi que isso não era possível, ela me enviou um vídeo com terroristas na rua dela. Nesse momento começamos a avisar todos e depois de uma hora todos em Israel já estavam sabendo.
Então ficamos em casa esperando os terroristas chegarem e depois de duas horas começamos a entender o que estava acontecendo. Eu peguei minha arma, beijei minha esposa e filhos, disse a ela pra fazer o que fosse necessário para se defender. Peguei o meu carro e fui em direção ao Centro Aliyah evitando as estradas principais e indo por terreno difícil usando um carro com tração nas quatro rodas. Foi um momento muito difícil e de muito medo estar exposto nas ruas. Finalmente consegui chegar ao centro sem encontrar terroristas, percebi que as casas vizinhas estavam com marcas de tiros na parede. Ao chegar encontrei com o segurança que reuniu três imigrantes que já tinham participado do serviço militar, fizemos uma cerca improvisada e nos espalhamos para defender a vila. Falamos para as pessoas nas casas entrarem no abrigo e ligarem os celulares porque estávamos no meio do Shabbat e muitos ainda não tinham recebido noticias. Alertamos pra avisarem suas famílias e falarem que estavam seguros, mas alguns questionaram a ordem de ligar o celular no Shabbat. Minha resposta foi clara e direta, hoje não teremos Shabbat! Percebemos fumaça e som de tiros vindos da cidade vizinha e sabíamos que era uma questão de tempo para os terroristas nos alcançarem. Duas semanas mais tarde recebemos um vídeo de um lugar vizinho que mostrava os terroristas chegando no nosso portão mas foram distraídos por um carro que passou, assim eles não entraram no centro. Vimos isso como um milagre porque não temos muita defesa aqui e poderia ser uma historia muito diferente se eles tivessem entrado aqui.
Todos os dias ficamos nas cercas e fizemos turnos de vigia durante a noite também, esperando os terroristas virem. Montamos um plano para remover as famílias que foram transferidas temporariamente para hotéis em áreas mais seguras, foi uma operação muito estressante e desafiadora transportar em torno de setecentas pessoas muito assustadas. Todos queriam ser os primeiros a sair e os mísseis não paravam, então durante a operação tivemos que entrar no abrigo várias vezes e, uma vez no ônibus só paramos no hotel. Na saída do último ônibus recebemos a informação de que os terroristas estavam vindo para a região. Passamos mais quinze a vinte minutos entrincheirados, até que o exército nos liberou para prosseguir.
Já no hotel sabíamos que seria uma operação longa e buscamos trazer uma rotina para todos, procurando escolas e creches para tentar trazer uma certa normalidade a situação. Precisávamos de escola para mais de trezentas crianças, o que foi muito desafiador, neste período o governo teve uma grande participação. Passamos cinco meses vivendo desta forma. Durante os cinco meses, todos os funcionários do Centro Aliyah moraram com os imigrantes e ficaram distantes de suas famílias. Eu não sei como explicar, não conheço muitas pessoas que fariam isso. Eles não foram obrigados ou solicitados a fazer isso, mas fizeram porque acharam importante. Nós tínhamos o direito de ficar no conforto em casa, mas como os imigrantes ficariam? Nós temos a chance de mudar a vida de muitas pessoas, o que envolve muito sacrifício, mas vale a pena. Por um Brasil de joelhos aos pés de Cristo, por Israel aos pés do Messias!
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